Quem foi Airton Senna? Um campeão nas
corridas de F1. O que mais? Nada além de engordar muito os cofres da Venus
platinada e do seu comentarista mor, o tal do Galvão. Sei que muitos abominarão
este e os demais comentários que farei sobre este cidadão, porém se for feita
uma análise mais profunda, o Senna só contribuiu para a nação após a sua morte,
quando a sua irmã assumiu i Instituto Airton Senna e através do dinheiro que
ele recebeu começou a financiar diversos projetos de inclusão social.
A globo no afã de faturar cada vez
mais, martelou na cabeça dos brasileiros, principalmente através do Galvão
Bueno, que o Senna era uma espécie de herói nacional. E o pobre Brasil assumiu
um piloto de uma categoria milionária como seu mártir.
Em vida, admito que foi um bom
piloto, enquanto possuía um bom carro, mas como cidadão, deixou a desejar.
Lembro me perfeitamente quando a África do Sul vivia um dos momentos mais
sangrentos do Apartheid, regime repressor que segregava a maioria negra da
população. Repudiado pela comunidade internacional, o país sofria boicotes
políticos e embargos comerciais da ONU. Os embargos também atingiam o campo
esportivo. Ainda nos anos 70, a FIFA baniu a África do Sul de competições de
futebol, o COI proibiu o país de disputar os Jogos Olímpicos e mesmo o rúgbi e
o críquete, esportes mais populares do país, também não podiam mais participar
de competições internacionais. Mas, ainda assim, a Fórmula 1 continuava
realizando sua corrida por lá, anualmente.
Normalmente programada para o começo
do calendário, em 1985 foi diferente. A corrida foi agendada para outubro, como
penúltima etapa do campeonato. E sofreu uma infeliz coincidência. Para a
sexta-feira, véspera do GP, estava marcada a execução de Benjamin Moloise,
poeta militante do Congresso Nacional Africano, partido tornado clandestino
cujo presidente de honra era Nelson Mandela. O regime do Apartheid condenava e
executava mais de 60 negros por ano no país, todos acusados de crimes
políticos. Moloise era um deles. Apelos vinham de todas as partes. A comunidade
internacional fez esforços para evitar a execução do condenado, algo similar ao
ocorrido ano passado com Sakineh Ashtiani, condenada à morte no Irã. Mas tudo
em vão.
O local previsto para a execução era
a prisão central de Pretória, distante pouco mais de 20km do autódromo de
Kyalami. O que reforçava a ideia de que a Fórmula 1, além de não dever correr
na África do Sul, estava no lugar errado e na hora errada. A Finlândia fez
apelos para que Keke Rosberg não disputasse a prova. O governo italiano pediu
que suas equipes e pilotos boicotassem a corrida. A RAI, TV estatal da Itália,
cancelou a transmissão pela televisão. A França fez o mesmo apelo e foi a única
nação parcialmente atendida. As equipes Renault e Ligier não viajaram ao país,
mas os pilotos franceses foram para Kyalami normalmente. Alain Prost chegou a
prometer que, em protesto, não subiria ao pódio, o que acabou não cumprindo.
No Brasil, as pressões também foram
imensas. Dois meses antes, em agosto, o presidente José Sarney havia assinado
um decreto proibindo a todos os cidadãos brasileiros o intercâmbio esportivo,
artístico e cultural com a África do Sul. Como brasileiros, Ayrton Senna e
Nelson Piquet não poderiam participar da corrida e teriam seus vistos de saída
negados caso embarcassem do Brasil. Como estavam na Europa, viajaram sem
problemas para Kyalami, ainda que tenham recebido uma carta da Comissão de
Relações Exteriores da Câmara dos Deputados pedindo a “deserção”. O Ministério
das Relações Exteriores enviou telegrama à CBA solicitando interferência junto
à FIA para a não-realização da corrida. O ministro da época, Olavo Setúbal, fez
um pedido pessoal a Jean-Marie Balestre. E foi ignorado.
Como também ignoraram os pedidos os
pilotos brasileiros. Senna disse: “Não tem problema. Faço o meu trabalho, que é
pilotar um carro para uma equipe inglesa”. Piquet deu ainda mais de ombros:
“Essa história de que fui pressionado é invenção de um jornalista”. E Emerson
Fittipaldi, que já estava na Indy, deu sua opinião à Folha de São Paulo: “Está
muito certo [o acontecimento da corrida]. Esporte e política são coisas
diferentes”.
E assim, enquanto Moloise era
executado e a África do Sul entrava em convulsão social, com negros agredindo
brancos nas ruas, quebrando vidraças, brigando e tomando tiros da polícia e
colocando fogo em barricadas, a Fórmula 1, superficial, alienada e indiferente,
ligava seus motores. Mas as pressões surtiram algum efeito, ainda que tardio. A
FIA aderiu ao boicote ao país e só voltou a levar a Fórmula 1 novamente para lá
em 1992, com o fim do Apartheid e dos embargos, dois anos após a libertação de
Mandela, que seria eleito presidente em 1994.
Esta é a história
do Grande SENNA, que a Globo nunca contou